Tribunal promove debate sobre o enfrentamento à violência contra a mulher
Evento contou com participação de autoridades, especialistas e público engajado no combate à violência de gênero

Na última sexta-feira (29), o Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE-SE), por meio da Comissão de Participação Feminina (COFEM), promoveu a roda de conversa “Aspectos Psicológicos da Mulher Vítima de Violência Doméstica”, dentro da programação do Agosto Lilás. O evento aconteceu no auditório do Tribunal e contou com a participação do público, que lotou o espaço e interagiu ativamente no momento de perguntas.
A mestre de cerimônia, Valéria Maria dos Santos, abriu a atividade e passou a palavra para o diretor em exercício, Norival Navas Neto, para os cumprimentos iniciais. Ele ressaltou a importância do assunto e destacou o papel institucional do TRE-SE: “O enfrentamento à violência contra a mulher não é apenas uma demanda da sociedade civil, mas um compromisso de todas as instituições democráticas. O TRE-SE se soma a esse movimento com responsabilidade e engajamento”. Na sequência, as três convidadas compartilharam suas experiências e reflexões.
A juíza de direito Juliana Nogueira Galvão Martins destacou os avanços conquistados com a Lei Maria da Penha e reforçou a importância da mobilização nacional promovida pelo Agosto Lilás. Em sua fala, ela chamou a atenção para a necessidade de cada um desenvolver sensibilidade e percepção diante das situações de violência doméstica, muitas vezes ocultas no cotidiano. “A campanha Agosto Lilás é essencial porque traz à tona realidades que, infelizmente, ainda permanecem invisíveis. Precisamos entender os sinais de uma mulher que sofre violência, que nem sempre são marcas físicas, mas podem estar em seu comportamento, em sua expressão ou até no silêncio. A Lei Maria da Penha nos deu instrumentos jurídicos importantes, mas é a conscientização coletiva que fortalece esses mecanismos, amplia a rede de proteção e salva vidas”, afirmou.
A magistrada ressaltou ainda que o Judiciário está atento e comprometido não apenas em punir os agressores, mas também em apoiar medidas que promovam a autonomia e a segurança das mulheres.
A médica obstetra e ginecologista Alessandra Aleixo Albuquerque, da Polícia Militar de Sergipe e professora da UFS, destacou os impactos físicos e emocionais que a violência doméstica causa na saúde da mulher, lembrando que esses sinais nem sempre são evidentes. “Os sinais muitas vezes são silenciosos, mas aparecem no corpo e no comportamento. Uma mulher pode não verbalizar o que está vivendo, mas o seu olhar, sua postura ou até um sintoma físico recorrente podem ser reflexos da violência. É fundamental que estejamos atentos a essas manifestações”.
Ela reforçou que esse olhar não deve estar restrito apenas a médicos e psicólogos, mas precisa envolver profissionais de todas as áreas que tenham contato com mulheres em situação de vulnerabilidade. “Quanto mais pessoas estiverem capacitadas a reconhecer os sinais, maior será a chance de interromper o ciclo da violência. O acolhimento precisa ser humanizado, sem julgamentos, oferecendo escuta, orientação e os encaminhamentos necessários para que a vítima se sinta amparada e confiante para buscar ajuda”, reforçou Alessandra.
Já a psicóloga do TRE-SE, Christiane Cavalcanti de Mello, mestre em Psicologia Social, trouxe uma reflexão sobre os impactos emocionais da violência doméstica e destacou como o ciclo da agressão pode fragilizar profundamente a autoestima e a autonomia da mulher. “A violência não atinge apenas o corpo, mas vai minando sua confiança, sua capacidade de decisão e seu senso de valor pessoal. Muitas mulheres passam a acreditar que não têm saída ou que dependem do agressor para sobreviver, o que perpetua o ciclo de dor e submissão”.
Segundo ela, romper esse ciclo exige não só força individual, mas sobretudo apoio coletivo. A psicóloga ressaltou a necessidade de uma rede de suporte integrada, que una família, amigos, serviços de saúde, psicologia, segurança pública e justiça.
Entre os presentes, a desembargadora e vice-diretora da Escola Judicial do TRT da 20ª Região, Graça Melo e a juíza substituta da classe jurista do TRE-SE, Tatiana Silvestre e Silva Calçado,também prestigiaram o evento, reforçando a relevância do debate interinstitucional.
Ao final, a presidente da COFEM, Luanda Luara Almeira de Araújo, agradeceu a todos pela participação e o empenho: “Esse encontro só foi possível graças à dedicação da equipe e ao interesse do público. Juntos, estamos construindo caminhos para uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres.”
Essa atividade encerrou a programação em apoio ao Agosto Lilás.
Audiodescrição: registro fotográfico das quatro participantes da palestra.